domingo, 14 de abril de 2013

Uma história de amor e fúria


  A história do passarinho rebelde e fudido, que sempre perde (mesmo quando ganha). Quando eu tinha 20 anos e achava o mundo absurdamente injusto, adoraria essa denúncia fria e cortante. Hoje, acho que o mundo é ambivalente, espaço da justiça e injustiça, do amor e da fúria, como sugere o título. (Mas a narração frusta essa convivência irmanada do amor e da fúria, pois no filme só se vê o amor no relacionamento pessoal (individual) e a fúria relacionamento coletivo (social), o que me parece o caminho errado, pois a ambiguidade está em todos os atos. Então me desagrada esse enredo linear sustentando que a mesma luta contra a opressão dura há 600 anos. O que me agradou foram as evoluções históricas que estão no segundo plano do filme. O crescimento do papel da mulher de mera fonte do amor para efetiva guerrilheira (quando o homem já desistiu) e a evolução de um relacionamento monogamico, para um triângulo, até o ponto em que ninguém é de ninguém. Nesse sentido, achei pobre que os excluídos do ano 2096 estejam apenas em busca da subsistência básica, foi extremamente desesperançoso, um retrocesso deprimente, que não me interessa pensar que efetivamente possa acontecer, muito menos como uma conclusão, como propõe o filme. Mas é interessante a denúncia irônica da privatização da segurança nesse mesmo período. Outra questão: a oposição à opressão será sempre a luta armada? Talvez essa seria uma boa conclusão para o filme, se quiser vencer a opressão é preciso abandonar a luta armada e combater por outros meios, usando a capacidade de sonhar, de voar, como faz o protagonista e parece ser seu maior dom. Mas o filme não passa essa mensagem, pelo contrário, quando o rebelde protagonista abandona as armas e passa a defender sua causa com argumentos, nos meios de comunicação, é dito que ele desistiu e se acomodou. Por fim, o filme ainda não hesita em agredir o telespectador, abandonando-o na escuridão, acusado de não conhecer seu passado. Então o filme se comunica mal com seu público, pois quem escolheu assisti-lo, é porque conhece ou está disposto a conhecer mais sua história. O filme é um libelo, que tenta convencer as pessoas a alterar o estado vigente. Para fazer isso explora toda a dor, sofrimento e opressão que já existiu e que existirá. Pecou por ficar simplista demais, maniqueísta. Não soube encantar.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Shame

Shame, de Steve McQueen, é um filme daqueles que levam alguns dias para serem digeridos, e dificilmente será esquecido pelo cinéfilo. É perturbador - mas consegue ser belo. Com poucos diálogos, diz muito sobre as pessoas, os relacionamentos, a busca de sentido da vida, sobre o nosso tempo.

As recorrentes cenas com longos silêncios e olhares perdidos lembra um pouco David Lynch e o também ótimo Bubble, de Steve Soderbergh. Mas Shame é melhor do que Bubble (ainda um tanto preso a uma narrativa convencional, apesar de ter uma estética interessante) e, ao contrário dos filmes de Lynch, não fala ao nível do onírico, mas sim na dimensão real e cotidiana das angustiantes vidas de seus personagens centrais.

Além disso, a atuação de Michael Fassbender (Bastardos Inglórios, X-Men: Primeira Classe) é impressionante. Seria digna de um Oscar, se o Oscar fosse digno de filmes como Shame e de atuações como a de Fassbender.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

City Lights


Por falhar em palhaço.... que beleza de filme!

Charles Chaplin faz graça com o amor, dimensionando a temática do romântico vagabundo que os dias de hoje não permitem existir.

Chaplin faz um morador de rua gentil, atento à vida e aos outros... da humanidade de sua personagem, rebelde ao trabalho e às agressões à pessoa, pessoa simples e boa, contrapõe-se a futilidade do relacionamento do grande burguês, que no meio de sua bebedeira faz do outro um apoio, usa sua amizade para logo a desprezar, vivendo dois mundos, do trabalho e da fuga.

Ri muito; Chaplin se mostra palhaço maestro de um grande circo, em que a diversão se mistura a uma refinada crítica à alta sociedade da época.

E no meio disso, o amor... um romantismo cavalheiro, que enfrenta a paz, a miséria e o trabalho, que desafia o físico e a lei!

Altamente recomendado, não à toa foi eleito um dos 100 filmes! Abraços!